segunda-feira, 9 de março de 2009

Declínio...

Qual a razão de retornarmos a lugares que juramos esquecer. Penso que dentro de cada pessoa existe algo que as controla mesmo que não percebam. Meu coração pode ter criado vínculos com aquele lugar, um lugar de morte, tragédia e horrores sem fim, mas mesmo assim, foi o lugar que me fez entender que nasci para ser quem eu sou. Durante anos lutei contra meu destino, procurei ser como os outros, fui treinado, e ainda sim ignorei o chamado. Hoje me arrependo, se por tanto tempo não tivesse renegado meu caminho, todos os que eu amei ainda estariam ao meu lado.


Tudo que relato nessa história faz parte de uma era esquecida. Os mais novos são educados a acreditar que aquele período não existiu. Talvez seja melhor, milhares morreram durante as infindáveis batalhas de libertação, a memória de todos foi apagada, menos por mim, eu continuo vagando e jurando lembrar e honrar cada um dos que permaneceram ao meu lado quando a luz foi tomada. Acredito que se ainda vivessem, iriam preferir que tudo fosse esquecido. Estamos em momentos de renovação, a vida sucede a morte, a luz retorna a sua origem, não vale lembrar de quando não havia mais esperança. Poucos como eu ainda restam, mas os que vivem são suficientes para saudar a memória de nossos irmãos, assim como são suficientes para lembrar o tempo em que nosso povo quase desapareceu.


Ano de 272 da 2ª Era

Verde até onde meus olhos podiam ver. Até hoje posso fechá-los e enxergar a relva rasteira que cobria campos e montanhas na costa sul de Vasurr. Apaixonei-me por esta terra desde o primeiro momento em que a vi, era lindo, diferente de tudo que já tinha visto.

Meu nome é Van Ariell, na época tinha 14 anos e era um dos encarregados pela limpeza do imponente e poderoso Unter Ox, espada do oceano na antiga língua Kör. Era muito pequeno quando minha aldeia foi assolada pelo exército do Ox, Aelle Gammar, o capitão, era o general guerreiro do povo bárbaro do norte, foi ele quem me capturou e poupou minha vida, dizia que me parecia muito com seu filho, morto durante um ataque ao navio. Passei toda minha infância a bordo do navio bárbaro de ataque e nunca reclamei. Conheci terras distantes, povos assombrados pela guerra, povos prósperos que logo se arrependiam do momento em que nos permitiram em seus portos. Quando fiz 12 anos, Aelle disse que importantes invasões do povo bárbaro iriam começar. A partir daquele momento não teria mais condições de estar comigo, porisso nomeou o melhor guerreiro do Ox como meu tutor. Bors era o único guerreiro negro do navio, na verdade, vim a descobrir mais tarde que ele era o único guerreiro negro entre os bárbaros. Havia chegado da mesma forma que eu, tinha sido criado pelos pais de Aelle, e se tornado um dos melhores guerreiros que já vi em combate até hoje. Aquele foi o dia de Bukoque, o deus da fome, era o dia que marcava o fim do inverno, o dia em que Aelle partiu com 10 de seus melhores homens para se juntar ao restante do exército bárbaro. Bors não estava contente, lutava ao lado de Aelle a anos, agora havia sido abandonado no navio para cuidar de um garoto franzino e sem o menor jeito para ser um guerreiro bárbaro.
Para os que permaneceram no navio havia apenas uma missão, saquear e destruir o maior número de navios de carga que fossem em direção à costa. Muitos transportariam armas em direção ao Vasurr e essas armas não poderiam chegar. A intenção de Aelle e dos outros generais, era de tomar a ilha sem destruição, queriam sitiar as grandes fortalezas e forçar uma rendição pacífica. Aquele deveria ser um novo lar, e não uma terra devastada pelo imbatível exército.
Bors era o novo capitão do Unter Ox, no mesmo dia em que Aelle partiu, alinhou o navio e partiu para rondar o oceano junto com o restante da frota. Naquele mesmo dia, meu treinamento começou.

- Por alguma razão, Aelle pensa que você é um verme especial – berrou Bors enquanto o mar estourava na proa do Ox – ele me deixou para treiná-lo garoto, e por sua causa perdi uma grande batalha. Eu respeito Aelle como um irmão, mas não acho que você valha meio pote de cerveja, porém, irei treiná-lo.
Eu não conseguia responder, estava amedrontado demais até para entender o que ele dizia. Sempre admirei o guerreiro negro, Aelle dizia que ele salvara sua vida centenas de vezes, e que Bors era o guerreiro que você deveria desejar quando estivesse em uma parede de escudos.
- Quando acabarmos verme, ou você será um assassino mortal, ou um verme esmagado entre meu machado e o casco deste navio.
E foi assim que começaram meus anos de treinamento. O Unter Ox permaneceu ileso durante os quatro meses em que permanecemos no oceano. Destruímos onze navios mercantis e quatro de batalha, nada passou pela área que vigiávamos e assim o povo bárbaro teve sua invasão. Todos os dias acordava antes que o sol saísse por detrás das ondas, Bors me jogava no mar e me fazia nadar de volta ao navio, passava toda a manha escalando o mastro principal com as pernas atadas, carregava caixas de armas e armaduras, desviava de pedras arremessadas pela tripulação e corria ao redor do Ox até que minhas pernas não pudessem mais responder. “Manhãs dedicadas ao corpo verme, tardes dedicadas à prática da espada”, esta era a frase que Bors repetia todos os dias.
O mar estava congelante, o vento vinha veloz de alto mar cortando a pele e fazendo os ossos doerem após o por do sol, o inverno estava chegando, e no dia em que pensávamos quando íamos voltar, recebemos a mensagem vinda da costa.
- Vamos nos preparar! Quero dois barcos no mar em 10 minutos. Avisem o restante da frota que partiremos para Vasurr com o nascer do sol. – o recado deixou toda a tripulação aflita, a mensagem chegara, mas Bors fazia questão de manter o mistério. Todos olhavam os barcos partirem com mensageiros para avisar a todos os navios bárbaros espalhados pelo mar norte. Eu não agüentei o suspense, estava preocupado com Aelle.
- Sr. Bors? – perguntei olhando em seus olhos como ele havia me ensinado. “um homem que não olha nos olhos não é um guerreiro” – Nós vencemos? Tomamos a ilha?
O gigante terminou de vestir sua capa e me olhou friamente. Por vários instantes permanecemos nos olhando enquanto a tripulação fingia não prestar atenção na pergunta. Bors parou de me olhar e fitou a tênue linha que marcava o contorno da ilha de Vasurr, a mais poderosa dos povos nórdicos.
- Está preocupado garoto? Acha que Aelle tombou? – agora era visível o interesse de todos os tripulantes do Ox. Bors deixou o olhar frio e mortal para me secar de forma diferente. Foi a primeira vez que vi aquele olhar no rosto marcado de um homem duro como a rocha. Bors me olhava com algo que lembrava muito a bondade, talvez começasse a me ver como um guerreiro, ou apenas estivesse espantado com minha real afeição por Aelle. O gigante olhou ao redor e viu cada um dos guerreiros que aguardavam uma resposta.
- Guerreiros, temos um novo lar! – berrou Bors com os braços estendidos em direção a costa. No mesmo momento todos gritaram. 170 homens batendo armas e pés contra o casco do navio, todos saudando a conquista de nosso exército.
- Aelle está vivo e bem garoto – Bors falou ao meu ouvido – temos três dias até alcançarmos a costa, se eu fosse você, continuava seu treinamento, ou então, ambos vamos conhecer a fúria de seu general.
E durante os três dias eu treinei. Nosso navio liderava o restante das vinte e uma embarcações de guerra que haviam ficado no mar defendendo a costa de Vasurr de uma possível chegada de reforço.
Agora o clima estava realmente fechado. O inverno chegara de forma intensa e toda a tripulação sofria com as rajadas congelantes de vento que chegavam a todo o momento do oceano. A ilha agora já era visível a olho nu, bandos de aves se afastavam da terra voando em imensos grupos a procura de um clima mais quente. Chegaríamos a Vasurr no final da tarde. Chegara o dia em que eu viria o tamanho do poder de meu povo.

2 comentários:

  1. Parabéns aos meus queridos amigos, ou melhor "filho" e sobrinho e tbm ao Matheus pela iniciativa....achei o máximo. Abraços. Sena Jr.

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  2. Vejo q é um blog q acaba de nascer... parabens pelo incentivo a parte...e layout é belo, e em breve estarei aqui publicando tmb..se puder....quem sabe podemos fazer uma parceria...terei prazer de colocar o link ou banner deste blog no meu..abraços

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